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Entendendo o documentário – Inside Job

Henrique Pavan / 09/02/2021 / Dicas

29 mar

  • Inside Job,

3MIN DE LEITURA

Por Equipe Investo

Entendendo o documentário – Inside Job

Neste post, vamos fornecer algumas dicas culturais relacionadas ao mundo da economia, dos negócios e dos investimentos. E o tema deste mês é o documentário Inside Job (Em português: trabalho Interno). Lançado em 2010, ele descreve os bastidores da crise econômica que abalou os mercados financeiros em 2008.

Ficha técnica

Título original: Inside Job Diretor: Charles Ferguson Duração: 109 min Ano: 2010 País: EUA Gênero: Documentário Quer saber mais

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Derivativos e crise das hipotecas

Ao longo das décadas de 1980 e 1990 o mercado financeiro norte-americano foi ficando mais sofisticado com a criação de uma nova geração de produtos financeiros já existentes e conhecidos como derivativos. Em sua forma mais simples, os derivativos consistiam em um direito à posse futura de um ativo ainda não existente. Por exemplo: se um importador está receoso de que o preço da saca de café suba no futuro, ele pode comprar um derivativo no mercado de hoje estabelecendo um valor que ele considere menor do que o esperado lá na frente. Ou seja, seria uma garantia contra uma eventual escalada no preço. Quando chegar a data acordada, ele terá direito à saca do café com o preço acordado tempos atrás através do derivativo. Trata-se de uma operação relativamente simples. O problema é que os derivativos se tornaram mais complexos. Foram criados dois tipos que, particularmente, tiveram efeito central no deflagrar da crise.

Mortgage Backed Securities ou MBS

No Mortgage Backed Securities ou MBS (algo como títulos lastreados em hipotecas), um banco local emprestava dinheiro para pessoas daquela comunidade/região para a compra de um imóvel. Para se livrar do risco de inadimplência, esses bancos (que, afinal, pertenciam a grandes conglomerados financeiros) “empacotavam” esses créditos hipotecários em outros ativos, os MBSs! Por sua vez, os MBS eram vendidos no mercado como se fossem ações, só que seu valor dependia do desempenho dos pagamentos hipotecários. Então, se os mutuários pagassem seus financiamentos imobiliários em dia, os MBS se valorizavam deixando seus possuidores felizes. Por outro lado, se houvesse uma espiral de calotes, o valor dos MBS se evaporaria deixando muitas pessoas e empresas (que também compravam esses títulos) com seus patrimônios reduzidos.

Collateralized Debt Obligations ou CDOs

Outro derivativo surgido nessa onda eram os Collateralized Debt Obligations ou CDOs. Sua lógica era semelhante à dos MBS com a diferença de que esses títulos eram lastreados também em outros tipos de dívidas: créditos estudantis, financiamento de veículos etc.

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Mas o que deu errado?

O problema desse sistema é que o risco estava perigosamente se espalhando por toda a economia. Em uma operação hipotecária normal, o banco emprestador assume o risco. Se o mutuário não paga, o prejuízo é somente daquele banco. Agora, se as pessoas começassem a dar calotes, todos os possuidores de MBSs e CDOs teriam um problema. E foi o que aconteceu. Em meados dos anos 2000, a economia dos Estados Unidos começa a desacelerar, os juros sobem (para entender sobre os impactos dos juros na economia, leia nosso texto sobre a taxa Selic) e muitas dívidas vão deixando de serem pagas. Com isso, o valor dos ativos lastreados nelas se evapora, colocando muitas empresas, fundos de investimentos e famílias em ruínas. Há um colapso total nos patrimônios de muitos bancos, criando-se um risco de escassez de crédito e de dinheiro na economia. A coisa só não foi pior porque, a partir do final de 2008, o governo fez uma política monetária agressiva (cortando juros e injetando dinheiro na economia), além de ter literalmente se tornado dono de algumas empresas e bancos (parcialmente, em muitos casos) para salvá-las e depois devolvê-las ao mercado.

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O documentário

O documentário é muito feliz em retratar os bastidores desses acontecimentos. Muitas pessoas-chave do mercado financeiro foram entrevistadas, muitas delas parcialmente responsáveis pelos eventos traumáticos. Em sua narrativa, os autores deixam claro que os interesses políticos foram os principais causadores da crise. Se o governo tivesse agido mais cedo e regulado melhor a utilização desses derivativos, nada disso teria acontecido. Ocorre que os grandes conglomerados financeiros – que ganhavam muito dinheiro vendendo esses ativos tóxicos no mercado – possuíam muita influência sobre os políticos em Washington, sempre atuando contra uma regulação mais prudente. Além disso, o filme não se limita a descrever os bastidores político-econômicos da crise. Trata-se de uma verdadeira aula de história sobre a economia recente. Explica como o mercado financeiro se desenvolveu, apontando problemas e possíveis soluções. Apesar do tom ácido, não deixa de finalizar com uma mensagem de esperança. A moral da história é que o mercado financeiro é muito importante se conduzido de maneira saudável. Ele deve servir ao público (as empresas, pessoas físicas, pequenos e grandes investidores, governos, ONGs etc.) antes de servir a si mesmo.

Marcações

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